quinta-feira, 17 de maio de 2012

Tristeza e revolta: mais uma morte por acidente de trabalho. Até quando os trabalhadores pagarão por suas vidas pela ganância dos patrões? Leiam, em especial, o depoimento do pai do trabalhador morto.

Sergipe

Ato na fábrica de cimento Itaguassu/Nassau protesta contra morte de trabalhador e pede justiça

16/05/2012



Ato em frente à fábrica (crédito: Sindicagese)

Depois do acidente de trabalho, empresa de cimento não presta assistência à família e vai à delegacia depor contra operário morto
Uma manifestação, realizada nesta quarta-feira (16), marcou os dois meses da morte de Valdir de Melo. O caldeireiro de 37 anos de idade foi eletrocutado no dia 16 de março dentro da Itaguassu/Nassau, fábrica de cimento de Sergipe. Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Cimento, Cal, Gesso e Cerâmica de Sergipe (Sindicagese), dois meses depois do acidente, a empresa ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto e cria obstáculos para que a família tenha acesso aos direitos trabalhistas de Valdir.
O ato foi organizado Sindicagese, que é filiado à CSP Conlutas. O PSTU, a Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (ANEL) e o Sindicato dos Petroleiros de Alagoas e Sergipe (Sindipetro AL/SE) também participaram da atividade e prestaram solidariedade.

“A gente quer trabalhar, mas não quer trabalhar para morrer. A empresa não tem respeito por nenhuma das companheiras e companheiros que trabalham aqui. Nós estamos aqui para falar da vida não só de Valdir. Nós não queremos que nenhuma outra morte aconteça”, falou Vera Lúcia, presidente do PSTU/SE, durante o ato.

O acidente

“Quando Valdir morreu, a empresa não foi procurar a família, reunir a Cipa [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes] ou investigar o acidente. Mandou o engenheiro para a Delegacia Plantonista dizer que Valdir tinha entrado no equipamento ligado sem permissão. Na dentro da fábrica, a gerência insinua que o nosso companheiro queria se matar. Isso é um grande absurdo”, afirma Djenal Prado, diretor do Sindicagese.
O sindicalista esclarece que o caldeireiro começou a fazer a manutenção do eletrofiltro pela manhã, parou para almoçar e iria continuar à tarde. Ao voltar para o trabalho, Valdir, pensou que encontraria o equipamento ainda desligado. Mas a máquina voltou a funcionar sem que ele fosse avisado. O caldeireiro foi atingido por uma descarga de cerca de 40 mil volts.
O Ministério do Trabalho já foi provocado para iniciar as investigações. “Exigimos uma investigação isenta, com a participação do sindicato. Queremos que os responsáveis, a gerência e os donos da fábrica, sejam punidos pela morte de nosso companheiro”, defende Djenal. A justiça também foi acionada para que a família receba pelos danos materiais e morais.

Saúde e Segurança

O pai de Valdir, José Melo, ainda encontra forças no meio de sua dor para conclamar os trabalhadores. “Eu trabalhei por mais de 20 anos em fábrica de cimento. Fui caldeireiro que nem meu filho. Vi muito acidente. Por isso também estou nessa luta. A turma tem que se conscientizar que ontem morreu meu filho. Amanhã pode ser qualquer outro. Ninguém quer que isso aconteça”, conclui.
“É importante que todos os trabalhadores exerçam o Direito de Recusa. A lei garante. Ninguém é obrigado a trabalham em ambiente perigoso. Além dessa briga, é importante manter a mobilização pela redução de pó, calor e ruído dentro das unidades”, detalha Heribaldo de Campos, presidente do Sindicagese.
No Brasil, por ano, são registradas cerca de três mil mortes por acidente de trabalho. Uma morte a cada três horas. Todas essas mortes poderiam ter sido evitadas com procedimentos adequados de segurança. Em Sergipe, se a Nassau tivesse um simples equipamento coletivo de bloqueio de eletricidade, Valdir estaria hoje com seus dois filhos.
Mas, onde os trabalhadores vêem segurança, a empresa só enxerga custos, que devem ser evitados. O problema é que esse corte de investimento custa a vida de pessoas.
Com informações de Zeca Oliveira (Aracaju/SE)
Assessor de Comunicação do Sindicagese

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