Alckmim e Serra vieram com a ladainha de sempre: "greve política em ano eleitoral e é um grupelho radical". Mas os metroviários de São Paulo demonstraram que sem eles a maior cidade da América Latina para.
Mas São Paulo não para só em dia de greve. Veja abaixo o que provoca tantos transtornos no trânsito.
Greve no metrô: Quem faz São Paulo parar? Por Altino Prazeres
Nosso metrô é o mais lotado do mundo, com 11 pessoas por metro quadrado. Essa “gente diferenciada” se espreme ali todos os dias, aguardando uma fresta para embarcar e trabalhar mais um dia. Há uma crise geral no transporte. Começa nas filas de ônibus e continua nos trens da CPTM, sucateados, que carregam a população em longas viagens de volta à periferia.
É difícil imaginar como a população consegue lidar com o sufoco. Os mais pobres são os que mais sofrem na ida para o trabalho, seja no aperto, no assédio às mulheres, e nas horas de vida perdidas. De certa forma, a política para os transportes é um outro lado da guerra aos pobres que o governo Alckmin vem fazendo, como quando expulsou milhares de famílias do Pinheirinho.
Os dados dos últimos anos não mostram esperanças de melhora. Nesta década, o metrô cresceu 2,6 km por ano. Em período semelhante, a cada ano, Madrid construiu 16,7 km e Xangai, 31,5 km.
O argumento mais comum é a falta de recursos. Não é verdade. O orçamento estadual dobrou desde 2004, indo para R$ 149 bilhões em 2011. Além disso, estudo encomendado pelos metroviários mostra que o metrô tem lucrado muito. A inflação de 1995 para cá foi 131%, mas as tarifas subiram 263%. Se o reajuste seguisse a inflação, o bilhete custaria hoje R$ 1,84. Essa “diferença” gera quase R$ 1 bilhão de lucro “extra” por ano ao metrô. Nos ônibus, é pior, chega a R$ 3 bilhões…
Definitivamente, o caos não se explica pela falta de recursos. A raiz está na lógica do transporte individual, que prioriza carros em prejuízo do transporte de massa, como trem e metrô. Se as verbas para recapeamento e obras tivessem ido para o metrô, estaríamos muito próximos dos 200 km de linha necessários. Infelizmente, seguimos com 70 km.
Todos perdem com essa lógica. Ou quase… As montadoras ganham muito com vendas recordes de carros. As empreiteiras também não têm do que reclamar. É preciso muitas obras e licitações para que os utilitários caibam nas ruas. Políticos e governantes são o outro elo da cadeia. Aprovam as obras e, em troca, recebem doações das empresas nas eleições – basta ver as conversas do ex-presidente da Delta e o caso Cachoeira…
O sufoco tem um lado que parece invisível, o dos funcionários. O número de passageiros aumenta a cada dia, mas o total de metroviários é praticamente igual a 1995. O resultado é um ritmo alucinante, com horas em pé, sem poder nem ir ao banheiro. Muitos de nós estamos doentes. Do mesmo jeito que os operadores da CPTM, os ferroviários de outras cidades e os rodoviários. Por isso que hoje sete capitais convivem com greves nos transportes e nos trens, mostrando que o drama dos trabalhadores é nacional, resultado ainda dos anos do governo petista.
As causas disso são as mesmas que afligem a população. Por isso, lançamos em 2011 a campanha “Chega de sufoco: Todos juntos por mais metrô e direitos!”. Chegamos a propor que, no lugar da greve, as catracas fossem liberadas à população, sinalizando o protesto. Mas o governo do estado e a empresa negaram, assim como negaram as diversas reivindicações dos trabalhadores. O governo não parece se importar com os funcionários do metrô. Em vez de investir nas pessoas que são responsáveis por tantas vidas, adotam a intransigência e a arrogância. O governo Alckmim é o responsavel por Sao Paulo amanhecer parada neste dia 23 e por todo o impacto na vida de milhões de paulistanos.
Na campanha salarial, brigamos pelo salário, corroído pela inflação, mas não só. Queremos um transporte totalmente público, mais metrôs, trens, estações e funcionários respeitados. Só assim será possível uma ampliação com qualidade, sem acidentes ou novos buracos.
Infelizmente, ao se plantar asfalto, colhemos engarrafamento. Essa lógica precisa ser quebrada. É isso que, de fato, faz São Paulo parar todos os dias e nao só em uma greve.
Altino Prazeres, presidente do Sindicato dos Metroviários de Sáo Paulo
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