sexta-feira, 27 de abril de 2012

Operários da construção civil de Fortaleza votam greve a partir de 7 de maio

Assembleia reuniu 2 mil trabalhadores na sede do sindicato, filiado à CSP-Conlutas



Fábio José C. de Queiroz
de Fortaleza (CE)



Peões marcham pelas ruas da capital cearense

• Qualquer que seja o juízo que se queira formular, é de se reconhecer que a campanha salarial da construção civil da Região Metropolitana de Fortaleza já se constitui em uma grande vitória da categoria. Depois de cerca de 10 paralisações em distintas áreas da RMF, envolvendo mais de uma centena de canteiros de obra, a força do operariado e a sua organização são fatores que não podem ser desprezados. A cidade despertou em cada um desses dias com um semblante diferente. As ruas apinhadas de trabalhadores com a sua indumentária de trabalho e os seus rostos sofridos davam uma expressão diferente à quinta maior metrópole do país. De fato, os operários da construção civil se tornaram uma referência obrigatória da paisagem urbana.

Essa paisagem, contudo, não existe sem o trabalho de mais de 60 mil “peões” que formam o plantel daqueles que produzem a atual fotografia da capital cearense e do seu entorno. O setor cresceu dez vezes mais que a média dos demais ramos da indústria do Ceará. Nem isso levou a que a patronal se dispusesse a apresentar uma proposta minimante decente na mesa de negociação. Enquanto Dilma e a mídia não cansam de falar de crescimento do ramo da construção, os patrões estão oferecendo algo como 6,5% de reajuste (enquanto as empresas chegaram a ter 30% de aumento de seus lucros) e abandonaram as conversações alegando a “violência” protagonizada pelos trabalhadores.

O que não deixa dúvida é que o crescimento econômico não promove uma melhor distribuição dos ganhos. Pelo contrário, os empresários querem abocanhar mais do que vinham arrancando nas conjunturas anteriores. Essa é a lógica do capitalismo. Quanto mais a economia cresce, menos a riqueza é distribuída. Aumenta a pobreza dos pobres, mas também o luxo dos poucos milionários que se beneficiam da exploração dos trabalhadores. Isso, sim, é que é violência.

Para o aumento do PIB, e em particular do setor da construção civil, têm sido fundamentais as jornadas de trabalho sem prazo de conclusão, a limitação dos reajustes de salário e a criminalização das lutas. Nunca se trabalhou tanto e isso tem levado a um aumento dos acidentes de trabalho. Nos últimos doze meses, quase 30 trabalhadores da construção morreram na RMF. Por outro lado, os patrões aumentam o que “dão por fora” e tentam segurar o salário de carteira. Ora, o que é dado na carteira corresponde a uma jornada de trabalho determinada; o que “é dado por fora” equivale a uma carga de trabalho que não respeita o horário da noite, o sábado, o domingo e o feriado. Isso tem aniquilado a vida dos operários. Isso, sim, é também violência.



Como se isso fosse pouco, para não mudar essa realidade, os patrões e o Estado tentam criminalizar as lutas da classe trabalhadora. Hoje, mais do que nunca, ir para greve significa também enfrentar um aparato jurídico e militar que se organiza em função da necessidade de derrotar a organização dos trabalhadores. Por isso, quando param cerca de 10 regiões diferentes da grande Fortaleza e mobilizam mais de 15 mil operários, os dirigentes do sindicato da construção civil – entidade filiada à CSP-Conlutas – sabem que, não estão apenas parando ¼ de toda categoria, mas estão se preparando para uma guerra de classe de escala superior. Cada dia de paralisação é um dia de treinamento.

Nessa direção, a assembleia desse dia 25 de abril é histórica, não só porque reuniu 2 mil peões dispostos a levar em frente essa campanha salarial; mas que ao votar greve geral por tempo indeterminado (a partir de 7 de maio) sabia que se estava votando uma tática que pode vir a ajudar a definir o futuro das campanhas salariais que vêm a seguir (confecção feminina, rodoviários etc.). A vitória dos trabalhadores da construção civil tende a potencializar a das categorias que virão na sequencia dos próximos meses, enfrentando problemas semelhantes em relação a salário, jornada de trabalho e repressão estatal e patronal.

Mais do que isso: o operariado saiu convicto de que para conseguir 17% de reajuste salarial, R$ 80 de cesta básica, “dia do peão”, plano de saúde e jornada de trabalho de segunda a sexta (de verdade e não apenas no papel) e demais reivindicações, terão que dobrar a aliança entre patrões e governos que querem manter o crescimento à custa de maiores sacrifícios para classe trabalhadora.

Os operários da construção civil que paralisaram em quinze dias 25% de todo seu plantel, que elegeram 42 delegados ao congresso da CSP-Conlutas, agora, tal como em Belo Monte, levantam os seus braços e gritam as suas palavras de ordem rumo a um novo tsunami que promete engolir Fortaleza a partir de 7 de maio.

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