Vejam abaixo, como deve agir uma categoria de trabalhadores quando a direção do seu sindicato não atua em defesa dos interesses da categoria.
Os operários da Usina Hidrelétrica Belo Monte continuam em greve por melhores condições de trabalho. As paralisações, que começaram na quarta-feira, 28, em apenas um canteiro, atingem neste sábado, 31, todas as unidades da obra. Segundo contagem dos trabalhadores, ao menos 80% dos 7 mil operários – novo número oficial informado pelo Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM) – já aderiram a greve por melhores condições de trabalho. A morte de um operador de motosserra esta semana também teria contribuído para que se iniciasse o movimento grevista.
Na manhã deste sábado foi feito um bloqueio na estrada que dá acesso aos sítios. Apenas os ônibus que fazem o translado dos trabalhadores foram retidos.
“Estamos conscientizando os companheiros sobre o que está acontecendo aos poucos”, conta Fábio Kanan, armador do canteiro de obras Canais e Diques. “A gente explica que não existe baixada de seis meses em nenhum lugar, que não dá pra receber só mil reais por mês. O problema é que o sindicato não está do nosso lado, estamos isolados”, explica. Por conta disso, os trabalhadores lançaram, hoje, um abaixo-assinado para que o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada do Pará (Sintrapav), ligado à Força Sindical, não seja mais a entidade representativa da categoria.
Na quinta, 30, o sindicato tentou realizar uma reunião em praça pública com os trabalhadores, mas houve tumulto. “O presidente do sindicato disse que quem quer fazer greve é vagabundo, baderneiro”, relataram. Os trabalhadores também acusam o sindicato de não acompanhar e cobrar o cumprimento das pautas o acordo coletivo firmado no final do ano passado, e de não tentar reverter as demissões ocorridas nas greves anteriores.
Os trabalhadores temem pela estabilidade de seus empregos. “Nós fomos ameaçados de demissão. Os encarregados disseram que, se a gente fizesse greve, seríamos demitidos. Como já aconteceu“. Durante a greve, havia diversos funcionários de “farda azul” (cor do uniforme das chefias) filmando e fotografando ostensivamente os operários. Segundo os trabalhadores, o RH da empresa esteve reunido pela manhã, checando as fotografias e vídeos registrados durante as manifestações, para identificar as lideranças do movimento.
Segundo o documento redigido à mão pelos grevistas, as reivindicações são: equiparação salarial, redução do intervalo da baixada (visita à família, quando são de outras regiões) de seis para três meses, melhores na comida e água, o fim do desvio de função, baixada para ajudantes de produção (cargo mais baixo na hierarquia da obra), capacitação para funcionários, plano de saúde, aumento do cartão alimentação (hoje, em cerca de 90 reais), aumento de salário, pagamento de horas extras aos sábados, transporte digno, a “troca” do sindicato representativo e o direito à baixada para os trabalhadores que decidirem, por conta própria, morar fora dos canteiros de obras. No final do documento, uma observação: “não atendendo as reivindicações, mantém-se a paralização”.
A morte de um trabalhador na última semana também levou a questionamentos mais fortes sobre as condições de segurança nos canteiros de obra. De acordo com os operários, os problemas são graves e a morte do operador de motossera não foi um fato isolado. “Ja ocorreram outras mortes nas obras e ninguém ficou sabendo”, denuncia um dos trabalhadores do canteiro Belo Monte. “Eles [a empresa] mandam o corpo pra família, porque eles moram fora, e ninguém fica sabendo de nada. Eles abafam. Mas não conseguiram abafar agora porque o peão era de Altamira”.
Texto: Ruy Sposati
Fotos: Pierre André Le Leuch e Ruy Sposati
Fonte: Movimento Xingu Vivo
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