Vejam o que a CUT está fazendo contra os trabalhadores. Embora essa mudança na CLT seja voltada para o setor privado, devemos lutar contra esse ataque e essa traição da CUT. Se há redução de direitos para um segmento dos trabalhadores todos os outros segmentos também perdem, porque a classe ficará enfraquecida.
É PRECISO DIZER NÃO!
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), uma das entidades mais
importantes da CUT, apresentou ao governo federal e ao presidente da
Câmara dos Deputados, uma proposta de Anteprojeto de Lei que muda a
legislação trabalhista criando o Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico
e pedindo pressa para sua aprovação. Para alem dos argumentos elencados
na cartilha que o Sindicato preparou para defender a sua proposta, o
que salta aos olhos é que se trata de mais uma tentativa de mudar a
legislação para que passe a prevalecer – na negociação coletiva entre o
sindicato e a empresa – o negociado sobre o legislado.
Já houve duas tentativas de implantação desta mudança na CLT nos
últimos anos. Foram levadas a cabo primeiro por FHC, em seu segundo
mandato, quando tentou aprovar uma mudança na Constituição Federal e,
depois, no artigo 618 da CLT. Depois, este mesmo propósito aparecia nos
debates da proposta de Reforma Sindical construída no Fórum Nacional do
Trabalho constituído pelo governo Lula em seu primeiro mandato. As duas
tentativas foram frustradas pela resistência dos trabalhadores e grande
parte de suas organizações sindicais que pressionaram o Congresso
Nacional e impediram a aprovação daquelas propostas.
O que se pretende com este tipo de proposta é abrir mais uma porta
para a flexibilização, diminuição ou eliminação de direitos e benefícios
dos trabalhadores, por meio da negociação com os próprios sindicatos.
Não é mera coincidência que os argumentos do SMABC para defender a sua
proposta sejam tão semelhantes aos que foram usados por FHC à sua época.
Ou depois, nos debates relacionados à proposta de Reforma Sindical
construída no Fórum Nacional do Trabalho, em 2004.
A argumentação central é a mesma de sempre: a CLT é antiga,
ultrapassada, antiquada para o momento atual, e prejudica os
trabalhadores ao engessar a negociação coletiva, impedindo avanços que
pudessem beneficiá-los. Por isso precisa ser modernizada. Como toda
falácia, tenta apoiar-se em algo da realidade. Realmente a CLT é antiga,
antiquada e ultrapassada. Diríamos mais: extremamente limitada e
insuficiente para assegurar os direitos dos trabalhadores. No entanto,
esta legislação nunca proibiu ou limitou qualquer negociação ou acordo
coletivo que estabelecesse condições mais favoráveis aos trabalhadores
do que o que está na lei.
Não se busca, portanto, “segurança jurídica”, termo usado
recorrentemente na cartilha citada, para a promoção de avanços para os
trabalhadores nos acordos coletivos negociados pelos sindicatos. Para
isso não seria necessária nenhuma mudança na legislação. Do que trata a
proposta é de garantir segurança jurídica para rebaixar ou eliminar
direitos e benefícios protegidos pela legislação (que já são poucos,
reconheçamos). Para legalizar uma prática que já existe de fato, por
parte de muitos sindicatos. Não é outra a razão de tantos elogios que a
proposta tem recebido de vários setores patronais em reportagens
publicadas em diversos órgãos da imprensa nacional.
Todos sabemos que as empresas, nos dias de hoje, buscam
permanentemente a redução dos custos com o trabalho para aumentar seus
lucros. Vêm daí as várias ofensivas para flexibilizar direitos que são
uma característica do neoliberalismo. Este recurso é ainda mais
importante para as empresas agora, com uma crise profunda da economia
capitalista que, desde 2008, se alastra e se agrava pelo mundo afora.
Qual o sentido de propiciar-lhes mais um instrumento para atingir este
objetivo?
Apoiado na grande imprensa em geral, o capital vem buscando
naturalizar uma idéia segundo a qual um sindicato que sabe negociar é o
que negocia acordos atendendo aos interesses da empresa. A ofensiva da
General Motors sobre os operários e o Sindicato de São José dos Campos,
para flexibilizar direitos e reduzir custos sob ameaça de demissão e
fechamento da planta é emblemática neste sentido. As empresas apóiam-se
na inexistência de proteção contra demissão imotivada em nosso país e
fazem chantagem contra os trabalhadores e seus sindicatos. Mesmo em um
momento de crescimento econômico e das vendas da empresa, ela ameaça com
demissão para reduzir direitos. E debita ao Sindicato a
responsabilidade pelas demissões quando este não aceita suas exigências.
A lógica da proposta de criação do ACE vai nesse mesmo sentido, e
acaba ajudando a corroborar a tese de que a negociação positiva,
desejável para os sindicatos, é a que atende aos interesses das
empresas. Transforma o anseio dos trabalhadores – negociar
concretamente, no chão da fábrica, melhorias para suas condições de vida
e trabalho – no seu oposto, em negociação que amplia a degradação de
suas condições de vida. Esta proposta, se aprovada, coloca em risco os
direitos relacionados à saúde e segurança no trabalho, férias, 13º,
amplia possibilidade de tercerização, quarterização, e um longo etc. E
tampouco garante o emprego, como se pode ver na triste experiência dos
acordos das Câmaras Setoriais na década de 90 e anos 2000.
Alem disso a proposta do SMABC recorre à antiga reivindicação do
movimento sindical – o direito de organização no local de trabalho –
para tentar “dourar a pílula”. O Anteprojeto estabelece como condição,
para que um Sindicato possa promover o chamado Acordo Coletivo Especial
com uma empresa, a existência de organização sindical de base nesta
empresa. Não há dúvida de que a existência de organização sindical de
base nas empresas é uma necessidade vital. O problema é para que?
Todos somos a favor de que se possa negociar concretamente, a partir
da realidade do local de trabalho. Mas negociar melhorias para as
condições de vida e trabalho da nossa classe, não para aumentar sua
exploração! Todos somos a favor da garantia em lei do direito á
organização dos trabalhadores nos locais de trabalho. Mas para
fortalecer a luta dos trabalhadores em defesa dos seus direitos, não
ajudar as empresas a aumentar a espoliação sobre os trabalhadores!
Por todas estas razões, os Sindicatos e dirigentes sindicais que
assinam este manifesto, declaram sua total discordância com o referido
projeto e conclamam a todas as entidades e dirigentes comprometidos com
os trabalhadores a somarem-se ao desafio que lançamos desde Porto
Alegre, na data de hoje: vamos a luta para impedir a concretização de
mais este ataque aos direitos e interesses da nossa classe.
Mudanças na CLT sim, mas para melhor e não para pior!
Direito de organização no local de trabalho, SIM!
Proteção contra demissão imotivada, SIM!
Flexibilização de direitos, NÃO
Fonte: site CSPConlutas