Nesse período em que a mulher está em evidência por causa do dia 08/03, esse pode ser um bom gancho para fazermos discussão com nossos alunos em sala de aula sobre o machismo e a violência contra a mulher.
Confira a matéria:
Bastou a comunidade de ativistas
das redes sociais "Nós Denunciamos", com mais de oito mil seguidores,
publicar no início da tarde de segunda-feira (25) um protesto contra os motivos
das capas de cadernos universitários Jandaia da linha "Placas",
acusados de serem sexistas, machistas e de fazerem apologia à violência contra
a mulher, para uma polêmica se instaurar.
Em um desses motivos, vê-se uma
placa de sinalização que adverte para o perigo de animais na pista e exibe a
figura de uma mulher entre dois carros.
Em outro, a ilustração simula uma
equação matemática na qual um homem somado a uma mulher alcoolizada, resultaria
em amor (ou sexo), o que é simbolizado por corações. A imagem foi interpretada
como sendo uma espécie de passe livre para o crime de estupro.
As capas, coloridas e
"criativas", visam conquistar um público consumidor bastante jovem e
é aí que mora o perigo, dizem professores e lideranças da categoria dos
profissionais da educação.
Menos de três horas após a
denúncia envolvendo o tema das capas e adesivos dos cadernos Jandaia, o perfil
da marca no Facebook publicou uma espécie de explicação e de pedido de
desculpas pelo que julgou ser uma interpretação equivocada das piadas e tiradas
"divertidas" produzidas pela equipe de criação das peças.
O perfil informa que a mulher
entre dois carros e com os braços levantados seria símbolo da prática criminosa
dos rachas, como na cena do filme "Juventude Transviada", e que, portanto,
os animais na pista seriam os praticantes do racha, que estariam na condução
dos veículos.
Material escolar?
A secretária-geral da CNTE
(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Marta Vanelli, ficou
escandalizada quando recebeu a informação durante um encontro nacional da
categoria. "As capas são de extremo mau gosto e transmitem uma imagem
muito pejorativa das mulheres", disse Vanelli.
"Não consigo imaginar como
uma empresa do porte dessa, com o alcance que tem, possa fazer capas que
reproduzam conceitos e valores tão discriminatórios", acrescentou.
A secretária-geral da CNTE ainda
se disse indignada com temas e piadas que, segundo ela, desestimulam os
estudantes e reforçam estereótipos, como o da "material girl". É o
caso dos desenhos que remetem à ideia de que vida boa é fora da escola ou que
objeto de anti-estresse feminino seja sinônimo de cartão de crédito.
"É lamentável que a empresa
opte por esse tipo de estímulo, em vez de incentivar os jovens a estudarem, a
aprenderem e a irem para escola adquirir conhecimentos", criticou.
"Será que valores positivos não vendem? Esse, sim, seria um desafio aos
criadores do produto", concluiu Marta Vanelli, professora de Biologia no
estado de Santa Catarina.
Não dá nada?
Em Curitiba, a professora
paranaense Elizamara Goulart de Araújo, secretária de Gênero, Relações
Étnico-raciais e dos Direitos LGBT da APP-Sindicato, entidade classista de base
estadual, também se manifestou contrária aos temas das capas de caderno Jandaia.
"Materiais como esses vêm na
contramão dos avanços em educação, pois reproduzem conceitos que reforçam
atitudes prejudiciais para as mulheres e para a vida em sociedade", disse
Elizamara. Ela lembra que somente nos últimos anos é que as escolas passaram a
incorporar na grade curricular, por exemplo, reflexões e lições de combate à
homofobia, ao preconceito e antissexistas.
"As universidades públicas
estão cada vez mais intensificando as pesquisas acadêmicas sobre relações de
gênero, aprimorando currículos e incorporando debates antissexistas ou de
combate ao preconceito e à intolerância", afirmou. "Quanto mais se
banalizam essas situações e se relega tudo ao plano do humor e da diversão,
mais fiel se torna o retrato de degradação nas relações sociais e humanas",
sentenciou a diretora da APP-Sindicato.
Na postagem do Facebook, apesar
das explicações, o perfil dos cadernos Jandaia resolveu ceder e admitiu:
"De qualquer modo, entendemos que essa interpretação é possível, pois
acabou gerando indignação por parte de muita gente. Devido a isso, pedimos
sinceras desculpas a quem se sentiu ofendido, e nos comprometeremos a cancelar
todas as vendas deste produto".
Procurada pela reportagem do UOL
desde ontem, a empresa não respondeu aos contatos.
A prova dos nove dessa queda de
braço em ambiente 2.0 só será conhecida de fato ao final do balanço de
contabilização das vendas dos cadernos com o advento da polêmica em torno de
suas capas. Os cadernos da linha "Placas", bem como os demais
produtos Jandaia, são comercializados em papelarias, hipermercados e
supermercados, em lojas de departamento de todo o País e em lojas de presentes.
No website da marca a linha
polêmica de cadernos e adesivos continua no ar e pode ser acessada.
(UOL Educação)
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