Bandeiras. Muitas bandeiras. Balões.
Faixas vindas de categorias dos mais diferentes estados. De norte a sul do
Brasil. Animação contínua. Bonecos da Dilma-PT e de Aécio-PSDB. Um grito era
uníssono em inúmeros momentos: “Os trabalhadores não aceitam pagar a conta da
crise”. Esse foi o tom da Marcha dos Trabalhadores e Trabalhadoras, organizada
por mais de 40 entidades, movimentos e organizações, e que tomou as ruas
do centro de São Paulo neste 18 de setembro, reunindo cerca de 15 mil pessoas.
Eram servidores públicos federais e
trabalhadores dos Correios em greve, metalúrgicos de montadoras que travaram
lutas recentes contra demissões, petroleiros em campanha salarial,
trabalhadores dos transportes, operários da construção, movimentos por moradia,
juventude, movimentos que lutam contra a opressão e muitos outros.
A marcha saiu da avenida Paulista,
desceu a rua Consolação pra finalizar na praça da República. As palavras de
ordem ecoavam em meio a tambores, pandeiros e bumbos.
Um dos primeiros a abrir o ato foi
aberta pela liderança dos Guarani Kaiowa Valdelice Veron. A indígena saudou “os
guerreiros e guerreiras” que estavam naquela luta e denunciou: “Hoje mesmo
houve um massacre na aldeia Iguatemi, em Mato Grosso do Sul. 12 pessoas ficaram
feridas e uma menina de 11 anos foi estuprada. Somente da minha família
morreram 15 pessoas”. Valdelice acusou o governo Dilma de defender o
agronegócio sem demarcar as terras indígenas. Pediu aos manifestantes que se
juntem à luta dos originários da terra contra o extermínio que vem vivendo e
pela imediata demarcação das terras indígenas.
Diversidade de
entidade e organizações e chamado à Greve Geral
Representações de todas as entidades
organizadoras saudaram a iniciativa e mandaram seu recado nos microfones no
caminhão de som e defenderam a convocação de uma Greve Geral no Brasil.
“Olê, olê, olê, olá. Olê, olê, olê,
olá. Pra derrotar o ajuste fiscal, trabalhador vai fazer Greve Geral”, essa
palavra de ordem foi ouvida em frente ao prédio da Secretaria Geral da
Presidência da República, na avenida Paulista, esquina com a rua Augusta.
Em frente ao prédio falou a
representante da CSP-Conlutas/SP, uma das responsáveis por organizar a marcha
na cidade. Paula Pascarelli denunciou que os trabalhadores vêm pagando a conta
da crise e chamou a luta. Essa crise não é nossa e esse governo não é dos
trabalhadores, assim como não nos representam PSDB e PMDB; precisamos unificar
nossas lutas e convocar uma Greve Geral”.
Integrante do Fórum dos Servidores
Públicos Federais, Paulo Barela, também cobrou em frente ao prédio para
denunciar a precarização do serviços públicos para a população e o arrocho
salarial à categoria. “Tudo isso em nome do agronegócio, dos banqueiros e empresários,
para quem Dilma governa”. Barela denunciou o arrocho que a categoria
sofre para a qual o governo que dar reajuste somente em agosto de 2016.
O internacionalismo
esteve presente
A manifestação manteve o perfil
internacionalista e contou com a saudação de um representante saudação da
Confederação da Classe Trabalhadora (CCT), com mensagem da Rede Sindical
Internacional de Solidariedade e Lutas e o chamado do refugiado sírio para o
apoio à luta do seu povo. “A ditadura de Bashar al-Assad já matou meio milhão
de pessoas e mantém meio milhão presas; queremos a solidariedade de todos,
pois; e mais fácil expulsar um ditador que um povo inteiro”, falou sob os
aplausos dos manifestantes Victorios Shames.
O dirigente metroviário, Fábio Bosco,
tradutor do refugiado sírio, declarou ao final “Nosso movimento é
internacionalista” e, em seguida, puxou a palavra de ordem “Brasil! Síria!
América Central! A classe operária é internacional”.
Reivindicações e
propostas
A primeira manifestação realizada após
o ajuste fiscal anunciado pelo governo Dilma na segunda-feira anterior
denunciou os diversos ataques que os trabalhadores vem sofrendo em suas
respectivas categorias, assim como as medidas que afetam o povo pobre. As
medidas da Agenda Brasil, que regulamenta as terceirizações, aumenta impostos
para os pobres, favorece o agronegócio ao invés de avançar na reforma agrária,
amplia as privatizações e prejudica o meio ambiente e os povos indígenas. Foi
denunciada a tentativa de privatização do SUS, o aumento de idade pra ter
direito à aposentadoria.
As demissões, o PPE (Plano de Proteção
ao “Empresário”), o arrocho salarial, o aumento da taxa de juros, a alta de
preços e o reajuste das tarifas de energia e água, a tentativa de redução da
maioridade penal apresentada por esse Congresso Nacional conservador e
reacionário e a criminalização das luta e do povo pobre também estiveram na
pauta.
O movimento reivindicou como
alternativa para equilibrar as contas públicas a taxação de grandes fortunas e
o não pagamento da dívida pública. Exigiu o fim da corrupção com prisão e
confisco dos bens dos corruptos e corruptores, da farra das privatizações.
Redução da jornada, sem redução salarial e defesa dos direitos sociais e
trabalhistas foram umas das bandeiras contra as demissões. Reforma agrária,
demarcação das terras indígenas, defesa dos imigrantes e refugiados,
investimentos em saúde e educação, mais creches, mas verbas para a garantir a
defesa de mulheres Defendeu ainda os direitos democráticos da
esquerda.
O trabalhador da Ferrous Mineração, de
Congonhas (MG), Mauricio Martins, disse estar na marcha porque está vendo que
tem que ter luta. “Tá todo mundo perdendo emprego, o salário não
acompanha os preços, só a luta pra melhorar”.
O presidente do ANDES-SN denunciou a
quem serve o governo brasileiro. “Os trabalhadores não aceitam pagar a conta da
crise, enquanto o governo federal privilegia o Capital, os mais ricos, os
bancos e o agronegócio. Fomos às ruas também para fazer um chamamento a todas
as entidades de classe e movimentos sociais que se somem na luta contra o
ajuste fiscal e contra os ataques aos direitos dos trabalhadores brasileiros”,
ressaltou Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN.
A manifestação de 18 de setembro foi a
luta dos que são contra governo Dilma-PT, Aécio-PSDB e Temer e Cunha- PMDB.
“Nem a manifestação de direita em 16 de agosto e nem a governista do dia 20 de
agosto”, disseram muitos.
O trabalhador dos Correios, da regional
Tietê, em Mogi das Cruzes (SP) defendeu que era necessário estar na marcha.
“Estamos em greve contra a terceirização e o aumento do desconto nosso plano de
saúde e esse ajuste fiscal ataca ainda mais a gente e todos os trabalhadores do
país, por isso temos de estar juntos aqui”.
Já a jovem Maria Clara, do Coletivo
Construção, também reafirmou a importância daquela marcha. “Estamos aqui porque
acreditamos que esse ato traz uma pauta que responde à conjuntura dos jovens.
Nós também dizemos não ao pacote e que essa luta tem que ter unidade, com a
perspectiva de aprovar uma agenda e fóruns que aglutine a esquerda”.
“Chega de Dilma, chega de Aécio, chega
de Cunha e desse Congresso”. Essa palavra de ordem cantada inúmeras vezes no
decorrer da manifestação, defendeu também que se construa uma alternativa
classista dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre.
Por volta das 21 horas, no ato de
encerramento, o membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas,
Atnágoras Lopes, parabenizou o esforço humano de todos e todas para estar ali.
“Todos os esforços foram depositados por mais de 40 entidades e organizações;
nossa tarefa e derrubar os que não nos deixam colocar nem sequer comida em
nossas casas, como é o casos dos trabalhadores demitidos do Comperj e da
Comburb no Rio de Janeiro”, disse. Ele convidou a continuidade daquela luta
anunciando o Encontro Nacional de Lutadores e Lutadoras que aconteceria no dia
seguinte. “Pra derrotar o ajuste, temos de derrotar o governo e romper com as
barreiras da elite e dos falsos passos dessa esquerda que apoia o governo.
Atnágoras lembrou o 1 ano da morte de
Dirceu Travesso, dirigente reconhecido no movimento por sua luta e lembrou a
luta dos imigrantes e refugiados que buscam por uma nova vida em outro país. “A
alma de quem sonha um sonho diferente, morre na alma do Mediterrâneo”.
A Marcha Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras encerrou às 21h na Praça da República.
Um certo cansaço já tomava conta de
muitos, mas em todos era perceptível a satisfação de uma mobilização vitoriosa
cuja perspectiva é avançar na construção de uma alternativa dos trabalhadores
para essa crise.
Organizadores da
Marcha
Organizaram a marcha mais de 40
entidades, organizações e movimentos. Entre elas, CSP-Conlutas, Andes-SN,
Sinsasefe, Cobap, FNTIG, Fenasps, MML, Quilombo Raça e Classe, MTL, Anel, Luta
Popular, Sindicato dos Metroviários, MRP, MLS, Unidos pra Lutar, MSLMD, MSMP,
MMDS, MAZON, Coletivo Construção, Pão e Rosas, Juntos, CST-Psol, Luta
Socialista, Juventude Vamos à Luta, Aliança Anarquista, Combate Classista,
Unidade Classista, UJC, MNN, Território Livre, PCB e PSTU.
Foto: Fábio Braga (Folhapress)