domingo, 11 de maio de 2014

Copa para quem? 250 mil famílias despejadas, ambulantes impedidos de trabalhar, trabalhadores mortos nas obras dos estádios.


Em carta resumo, atingidos pela Copa chamam sociedade para luta
por Thaíne Belissa - Minas Livre
Após três dias reunidos no primeiro encontro dos atingidos por megaeventos e megaempreendimentos, representantes de comunidades de todo o país escreveram uma carta com o resumo do que foi discutido. O documento é direcionado aos governos estaduais e federal, além de toda a sociedade. O Encontro dos Atingidos – Quem Perde com os Megaeventos e Megaempreendimentos, aconteceu nos dias 1, 2 e 3 de maio, em Belo Horizonte, e foi promovido pela Associação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop).
A carta começa destacando que as violações de direitos foram identificadas em todas as cidades sede da Copa do Mundo 2014. A primeira e mais evidente violação é a de moradia. Segundo o documento, o megaevento aumentou consideravelmente as remoções de famílias em diferentes partes do país: são 250 mil famílias despejadas. Na carta, os participantes lembram que as consequências disso são desastrosas para as famílias, que acabam se endividando e sofrendo impactos psicológicos.
“Decidimos sair deste encontro com uma grande união para barrar os despejos e remoções no Brasil. Sairemos juntos daqui numa articulação permanente, e assim estaremos mais fortes. Por um Brasil sem despejos! Brasil sem remoção! Respeito ao cidadão!”, diz um trecho da carta.
Outra violação apontada é a do trabalho.  Ambulantes serão impedidos de trabalhar por causa da Lei Geral da Copa, que proíbe a comercialização de produtos no entorno dos estádios, onde apenas os patrocinadores do evento poderão atuar. Diante disso, os movimentos propõem um boicote às empresas que financiam a Copa em solidariedade aos ambulantes. A carta ainda protesta em favor dos trabalhadores da construção civil, que estão sendo pressionados com a necessidade de obras em tempo recorde. Também defende os catadores de papéis, principalmente em cidades onde as prefeituras estão dificultando o trabalho dessa categoria.
A carta também aborda a necessidade da democratização dos meios de comunicação, que, atualmente, são manipuladas pelo poder público. Os participantes do encontro pedem a revisão do marco regulatório da mídia e respeito à imprensa popular e independente. Além disso, o documento traz a denúncia dos movimentos de constante repressão do Estado às manifestações populares. “A juventude deve ser respeitados em seu direito a se manifestar. O Brasil está vivendo uma escalada autoritária, onde governo e Congresso buscam criminalizar movimentos sociais”, destaca a carta.
A questão do meio ambiente também é abordada no documento. Os integrantes dos movimentos afirmam que a Copa vem sendo apresentada como sustentável, mas uma grande quantidade de árvores estão sendo cortadas nas cidades para a viabilização das obras. A carta ainda destaca a mobilidade urbana e lembra a necessidade de enxergar o transporte como um direito social.
Pelo direito das minorias
A carta produzida pelos participantes do encontro também faz uma alerta sobre os riscos aos direitos da população, principalmente de grupos considerados minorias. É o caso das mulheres e das crianças, que podem se tornar vítimas da exploração sexual e do tráfico humano durante os megaeventos. “É necessário e urgente criar campanhas de combate à exploração sexual e ao tráfico de pessoas nas escolas da rede pública, rede hoteleira, proximidades dos estádios e nas regiões turísticas. Deve ser incluída a capacitação dos profissionais do turismo e da rede hoteleira”, propõe o documento.
A população de rua também é citada: a carta denuncia práticas de expulsão dessas pessoas das áreas centrais com o objetivo de “higienizar” a cidade. As comunidades tradicionais que estão com seus territórios ameaçados e os movimentos de homossexuais também recebem o apoio das comunidades participantes do encontro.
A carta é finalizada com um convite à sociedade para transformar a Copa do Mundo 2014 na Copa das Mobilizações. “Conclamamos a população a fazer desta a Copa das Mobilizações, mostrando ao mundo a força e a alegria do povo brasileiro em luta!”, conclui o documento.

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