Em carta resumo, atingidos pela Copa chamam sociedade para luta
por Thaíne Belissa - Minas Livre
Após três dias reunidos no primeiro encontro dos atingidos por megaeventos e megaempreendimentos, representantes de comunidades de todo o país escreveram uma carta com o resumo do que foi discutido. O documento é direcionado aos governos estaduais e federal, além de toda a sociedade. O Encontro dos Atingidos – Quem Perde com os Megaeventos e Megaempreendimentos, aconteceu nos dias 1, 2 e 3 de maio, em Belo Horizonte, e foi promovido pela Associação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop).
A carta começa destacando que as violações de direitos foram identificadas em todas as cidades sede da Copa do Mundo 2014. A primeira e mais evidente violação é a de moradia. Segundo o documento, o megaevento aumentou consideravelmente as remoções de famílias em diferentes partes do país: são 250 mil famílias despejadas. Na carta, os participantes lembram que as consequências disso são desastrosas para as famílias, que acabam se endividando e sofrendo impactos psicológicos.
“Decidimos sair deste encontro com uma grande união para barrar os despejos e remoções no Brasil. Sairemos juntos daqui numa articulação permanente, e assim estaremos mais fortes. Por um Brasil sem despejos! Brasil sem remoção! Respeito ao cidadão!”, diz um trecho da carta.
Outra violação apontada é a do trabalho. Ambulantes serão impedidos de trabalhar por causa da Lei Geral da Copa, que proíbe a comercialização de produtos no entorno dos estádios, onde apenas os patrocinadores do evento poderão atuar. Diante disso, os movimentos propõem um boicote às empresas que financiam a Copa em solidariedade aos ambulantes. A carta ainda protesta em favor dos trabalhadores da construção civil, que estão sendo pressionados com a necessidade de obras em tempo recorde. Também defende os catadores de papéis, principalmente em cidades onde as prefeituras estão dificultando o trabalho dessa categoria.
A carta também aborda a necessidade da democratização dos meios de comunicação, que, atualmente, são manipuladas pelo poder público. Os participantes do encontro pedem a revisão do marco regulatório da mídia e respeito à imprensa popular e independente. Além disso, o documento traz a denúncia dos movimentos de constante repressão do Estado às manifestações populares. “A juventude deve ser respeitados em seu direito a se manifestar. O Brasil está vivendo uma escalada autoritária, onde governo e Congresso buscam criminalizar movimentos sociais”, destaca a carta.
A questão do meio ambiente também é abordada no documento. Os integrantes dos movimentos afirmam que a Copa vem sendo apresentada como sustentável, mas uma grande quantidade de árvores estão sendo cortadas nas cidades para a viabilização das obras. A carta ainda destaca a mobilidade urbana e lembra a necessidade de enxergar o transporte como um direito social.
Pelo direito das minorias
A carta produzida pelos participantes do encontro também faz uma alerta sobre os riscos aos direitos da população, principalmente de grupos considerados minorias. É o caso das mulheres e das crianças, que podem se tornar vítimas da exploração sexual e do tráfico humano durante os megaeventos. “É necessário e urgente criar campanhas de combate à exploração sexual e ao tráfico de pessoas nas escolas da rede pública, rede hoteleira, proximidades dos estádios e nas regiões turísticas. Deve ser incluída a capacitação dos profissionais do turismo e da rede hoteleira”, propõe o documento.
A população de rua também é citada: a carta denuncia práticas de expulsão dessas pessoas das áreas centrais com o objetivo de “higienizar” a cidade. As comunidades tradicionais que estão com seus territórios ameaçados e os movimentos de homossexuais também recebem o apoio das comunidades participantes do encontro.
A carta é finalizada com um convite à sociedade para transformar a Copa do Mundo 2014 na Copa das Mobilizações. “Conclamamos a população a fazer desta a Copa das Mobilizações, mostrando ao mundo a força e a alegria do povo brasileiro em luta!”, conclui o documento.
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